Checklist da Consciência Fonêmica
Para o domínio e a escrita competentes três quesitos fundamentais são apontados por Seabra e Capovilla (2010):
a) A compreensão de que a escrita mapeia a fala;
b) A habilidade de discriminar entre as unidades fonêmicas da fala e,
c) O conhecimento das correspondências entre tais unidades fonêmicas e as unidades grafêmicas, ou seja, associação fonemas/grafemas.
Esses quesitos fundamentais são desenvolvidos na pré-alfabetização, através das habilidades de consciência fonológica, que refere-se a capacidade de manipular os segmentos da fala (frases, palavras, sílabas e fonemas) e que propiciam a compreensão de que a escrita mapeia a fala (item a).
Especificamente a habilidade de discriminar as unidades fonêmicas, ou seja, referentes as letras e os seus fonemas, aqui tratados como sons, essas habilidades específicas a serem desenvolvidas pertencem a etapa da consciência fonêmica (item b).
A consciência fonêmica por sua vez, pertence a consciência fonológica que foi amplamente abordada no artigo “Tudo sobre consciência fonológica na pré-alfabetização”.
Os relatórios americanos de 2000 e 2008 dos painéis “National Early Literacy Panel” (Painel
Nacional de Alfabetização Infantil) apontaram que a facilidade com que as crianças aprendem a ler e escrever em um sistema alfabético de escrita é influenciada principalmente pela sua percepção de sons e reconhecimento das letras.
Vale & Bertelli (2001) identificaram em uma pesquisa realizada em Portugal, que o melhor preditor para o desenvolvimento da leitura e da escrita é a consciência fonêmica e sugere que o trabalho de dinamização das capacidades metafonológicas na pré-alfabetização não deve fixar-se apenas em unidades acusticamente salientes como a rima e a sílaba mas deve despertar a sensibilidade fonêmica.
No contexto do português brasileiro, a consciência fonêmica foi apontada por Cardoso-Martins (1995) como a habilidade mais importante a ser desenvolvida na consciência fonológica.
No entanto a percepção dos sons das letras e a sua manipulação nas palavras não é natural e trivial.
Os autores convergem que as habilidades da consciência fonêmica são as últimas a emergir
durante a pré-alfabetização.
Isso ocorre, pois, os sons das letras são coarticulados em sílabas, ou seja, ao falar uma palavra emitimos e ouvimos claramente as sílabas e não os sons individuais das letras.
Logo, se os sons não são facilmente percebidos eles precisam ser evidenciados. E para ser evidenciado ele precisa ser primeiramente explicitado.
Logo, a base da consciência fonêmica é a instrução dos sons das letras.
Sobre esse tema dos sons das letras, abordarei isso profundamente em outro artigo. Então fique ligada no seu e-mail para receber os mesmos.
Por esse motivo não abordarei as estratégias de apresentação dos sons das letras no presente artigo.
Mas importante ressaltar: não basta apresentar os sons das letras.
A apresentação dos sons das letras pode ocorrer pelas dramatizações, que é a forma que eu indico, ou ainda, terão educadoras que optarão por apresentar os sons das letras juntamente com as formas e nomes das letras, quer seja porque a criança já foi exposta a isso ou porque decidiu fazer assim.
Tudo certo desde que ao apresentar a letra a evidência seja dada ao seu som. Pois nessa fase da consciência fonêmica na pré-alfabetização é isso que será importante ser desenvolvido e compreendido pela criança.
Ou seja, o trabalho deve priorizar que a criança perceba os sons dessas letras nas palavras. Para que posteriormente ocorra a solidificação do princípio alfabético.
Que refere-se ao item c do primeiro parágrafo e que será uma habilidade desenvolvida no final da pré-alfabetização ou início da alfabetização e é a associação entre os grafemas (formas gráficas das letras) aos fonemas (sons das letras).
Essa associação que permitirá a decodificação pela rota fonológica de leitura. Mas isso é assunto para um próximo artigo. Pois antes disso acontecer a criança precisa perceber esses sons individuais.
Se não basta saber os sons das letras, como perceber os sons das letras nas palavras?
Primeiramente é importante solidificar o conhecimento dos sons das letras, dessa forma o educador precisa saber se a criança domina os sons de todas as letras, como isso é possível?
Se a apresentação levou em conta a dramatização, então pergunte a criança, por exemplo, qual o som é emitido quando sopra a folha? Qual o som do avião? Qual o zumbido da abelha?
Enfim, confira se todos esses sons já foram memorizados.
Lembre-se que para ajudar a memorizar os sons alguns textos podem ser lidos para auxiliar a enaltecer esses sons nas palavras assim como a apresentação de figuras que tenham os nomes iniciados pelas letras trabalhadas.
Por este motivo, a segunda etapa da consciência fonêmica que é a identificação dos fonemas
inicias contribui para a memorização dos sons das letras. Logo, atividades que visam a identificação dos sons das letras podem ser desenvolvidas em paralelo a memorização desses sons.
Um exemplo de atividade pode ser: separe objetos ou figuras que representam objetos em uma mesa e peça para a criança separar de um lado todas os objetos que começam com a letra F e do outro todos iniciados com a letra V.
Outra etapa que trabalha os fonemas iniciais é a Síntese – Iniciais. Nessa etapa a criança deve ser capaz de unir um fonema inicial ao restante de uma palavra.
Uma ideia de atividade para desenvolver essa habilidade é a seguinte: fale para a criança que ela precisará unir um som ao restante da palavra. Diga o fonema F e o restante ACA, a criança deve ser capaz de unir e dizer FACA.
Sempre sustente os fonemas inicias para facilitar a identificação da criança.
Perceba então que toda atividade que visa identificar o fonema inicial é mais simples para a criança executar, por esse motivo começamos por ela, sempre partindo de atividades mais simples para as mais complexas.
Sendo que as duas últimas etapas da consciência fonêmica visam fortalecer a flexibilidade cognitiva das crianças na análise e síntese de fonemas e são, portanto, mais difíceis de serem executadas.
Esteja ciente que essas atividades para desenvolver a consciência fonêmica são difíceis para a criança executar e exige um ensino instruído, explicito e sistemático. Confira todas as etapas na Figura 1.
Na etapa de exclusão a criança deve ser capaz de excluir um fonema de uma palavra, explique o objetivo e o que você espera que ela faça e então diga, por exemplo: Tenho uma palavra que é MALA se retirar o primeiro som M, o que formou? ALA. Sustente o fonema M por algum tempo.
Na etapa de adição ocorrerá o inverso, a criança deve ser capaz de adicionar um fonema a uma palavra.
Por exemplo, na palavra ATA se colocar o som M no início, o que formou? MATA.
Na etapa de substituição de fonemas a criança deve ser capaz de trocar um fonema e adicionar outro e identificar a nova palavra formada, por exemplo, na palavra MATA ao retirar o M e colocar o P, o que formou? PATA.
Note que as atividades sugeridas aqui promovem alterações nos fonemas iniciais, mas conforme a criança avance na percepção dos sons o interessante é promover atividades com exclusão, adição ou substituição de fonemas no meio ou fim da palavra. Dessa forma a criança vai percebendo que apenas uma troca de letra altera a palavra e assim o seu sentido e significado.
A criança também perceberá que dentro de uma palavra pode ter outra palavra. Essa consciência da linguagem auxiliar posteriormente na leitura e na escrita.
Para avançar para as etapas finais é importante que as etapas anteriores estejam consolidadas, devido a complexidade das atividades de análise e síntese, que exigem um treinamento prévio e maior contato com os sons das letras.
Na etapa de análise a criança deverá ser capaz de decompor os fonemas, ou seja, ao dizer uma palavra como MOLA, ela deverá lhe dizer os fonemas que a formam: M – O – L – A.
Comece com palavras simples e que ela esteja habituada a ouvir e emitir.
Na última etapa, que é a síntese, refere-se a aglutinação de fonemas isoladas em uma palavra, a criança deverá ser capaz de juntar os fonemas que você dirá separadamente. Por exemplo, diga os sons S – A – P – O, e ela deverá dizer a palavra final SAPO.
Note que todas as habilidades que devem ser desenvolvidas na consciência fonêmica podem ser trabalhadas através de atividades orais.
Não há necessidade de apresentar as palavras escritas para a
criança, mesmo que ela já conheça as formas das letras e tenham associado isso ao som. Outra possibilidade é representar cada fonema com um bloco de montar ou pedaço de papel colorido.
A apresentação de um concreto ajuda a criança a perceber os menores elementos constituintes de uma palavra, ou seja, os fonemas.
Figura: Etapas da consciência fonêmica na pré-alfabetização
Lembre-se que as habilidades da consciência fonêmica não são triviais de serem adquiridas pela criança e dificuldades poderão surgir, caso ocorra, identifique a dificuldade e reinicie a instrução.
Com um ensino sistemático, explícito e bem instruído a melhor preparação para a alfabetização será certa.
Figura 2: Checklist da consciência fonêmica
Aproveito para deixar um convite especial para você:
Você já está no grupo da jornada da alfabetizadora de sucesso?
É por lá que vamos liberar os links das aulas, ele é silenciado e é totalmente gratuito.
Developing early literacy: Report of the National Early Literacy Panel. Washington,